Quem sou eu

Me abre, me lê, confessa. Sou eu quem sei todos os seus segredos traduzidos em meus conflitos. Vem

sábado, 28 de agosto de 2010

Janta

Cobertos apenas por lençóis, conversávamos sobre coisas mundanas, deitados em posições opostas a um eixo simétrico imaginário, que permeava em nossas cabeças. Conversávamos sobre qualquer coisa, coisas estas que não me faziam muito sentido. Me perdi em determinado pensamento sobre projetos, e de repente estava voando com uma borboleta que passara a pouco na janela.
Ouvi um silêncio e percebi que era a deixa para que eu balançasse a cabeça como que concordar com tudo o que você dizia.
- Você não está prestando muita atenção, não é?
Não estava, de verdade, o sol que inundava nosso quarto lambia a minha pele nua e me arrancava algumas de suor na testa. Levantei, fui ao banheiro tentar clarear a minha imaginação com um punhado de água fresca da pia.
- Você está bem?
Eu não sabia se estava, muita coisa se passava pela minha cabeça na hora, os meus pensamentos eram meros borrões indecifráveis para quem os olhasse de fora, mas eu sabia o que cada um deles significava. Cada cor, forma e cheiro tinha um significado especial para mim. Foi então quando você se levantou, os raios solares que invadiam nosso quarto incidiram sobre você, revelando a perfeição que era o seu corpo, seu rosto, cada pequeno detalhe do seu ser. Aliás, até a sua alma transparecia àquela luz. Você e o seu costumeiro caderno azul.
- Me diz o que aconteceu, por favor.
Uma sinestesia borrava agora o seu rosto, que era perfeitamente talhado a mão. Senti-me culpado por borrar tão perfeita arte, fui então tentar consertar o meu erro e beije-lhe a boca. Seus lábios estavam quentes como o resto de seu corpo, foi então que me perdi naquele calor, já não sabia mais o que era você e quem era eu.
Já era noite, e estávamos abraçados, dessa vez não havia eixo de simetria imaginário, era apenas o nosso sentimento contra aquela noite fria. Minha visão embaçou, pisquei algumas vezes e percebi que estava chorando. Porque caiam aquelas gotas de orvalho, quentes como a manhã, em minha face? Levantei antes que você percebesse, mas um soluço me escapou e você levantou-se de sobressalto. Viu aqueles diamantes líquidos caindo dos meus olhos e me abraçou, tão forte que eu senti todos os meus anseios e receios sendo expurgados. Respirei aliviado, como não fazia a tanto tempo e retribui o abraço, sentindo cada parte do seu corpo, era a última vez que nos veriamos.

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