Quem sou eu

Me abre, me lê, confessa. Sou eu quem sei todos os seus segredos traduzidos em meus conflitos. Vem

sábado, 26 de janeiro de 2013

Santa Helena

Assim que fechei a porta de casa consegui finalmente saciar o meu desejo: te peguei nos braços e beijei, como se não houvesse fim - ou começo - apenas o meio, o ali e agora. O seu cheiro me cutucava e eu te despi com a mente mais rápido do que fiz com as mãos - preferi a sua imagem nua à minha mente brincar se contrapondo ao meu tato.
Nem nos demos o trabalho de chegar à cama. O sofá, o chão e o corredor foram espaçosos o suficiente. Mas, até o dia nascer, nós conseguimos chegar ao quarto.

Descansados, depois de algumas horas de sono e um banquete do nosso modo, você disse que precisava sair... Ir ao banco, algo com dinheiro, não sei bem (e nunca vou entender). Te dei um beijo e você foi.

Era uma segunda.
Hoje já é sexta e eu continuo te esperando na segunda.
Ninguém sabe ou viu...
Acho que você nunca existiu.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Febre

Ardendo em febre no meio daquela multidão incansável, eu olhava adiante sem mirar em nada - minha cabeça não parava quieta.
Foi então que em uma dessas passadas de olhar despretensiosas, houve uma troca entre dois. Eu te vi, olhando pra mim - ruborizei e resolvi retribuir.
Aos poucos a multidão sumia do meu campo de visão que parecia embaçar-se aos poucos. Não dei muita importância, fixei meu olhar em você, como se isso já te fizesse meu. Sentindo a reciprocidade voraz dos seus olhos castanhos.

Andei, até que a multidão, junto com você, sumiram por inteiro e eu senti o peso do meu corpo se largando no chão sem ter como me apoiar ou segurar.

Acordei sem saber aonde estava, o quarto parecia de uma limpeza quase cirúrgica. Olhei em volta e percebi estar em hospital, mas ainda era um mistério como eu havia chegado aqui. Mais importante: olhei e não te achei, havia perdido você como um delírio de febre terçã.
Levantei e ainda me sentia fraco, fui à porta tentar abrir quando senti uma tontura, voltei para me apoiar na cama e senti um corpo quente me envolvendo. Olhei, e encontrei seus olhos que achei ter perdido para sempre.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

depois do silêncio

Enrolados em lençóis pensávamos distintamente em coisas semelhantes.
Separados por um eixo imaginário, você fumava enquanto eu só observava a fumaça brincar divertida na sua boca. Mas os meus olhos se perdiam na sua pele, no seu corpo, no seu cheiro; enquanto eu me perdia pensando o que você sentia, além do nosso sexo. Você me olhava com aquela cara de poeta procurando inspiração - mal sabia que era de você que tirava a minha.

Levantei da cama e lá fora algumas nuvens se mexeram, deixando entrar o sol pela janela entreaberta, que delineou perfeitamente o seu corpo.
Encaminhei-me a você, abracei, cheirei - o seu costumeiro cheiro de cigarro, café e sexo - e te beijei. Um beijo pesaroso, que poderia facilmente ser o nosso último.
Me afastei, peguei minhas roupas e na inapetência de dizer adeus, apenas proferi algumas palavras - Quem sabe daqui a alguns anos a gente possa dividir um café, e quem sabe cutucar algumas memórias.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O poema de hoje

O poema de hoje não tem graça, ou desgraça.
Ele fala de alguém que não sabe pra onde vai e nem de onde veio, de alguém que a vida anda sem sentido as vezes.
Todo verão, todo janeiro, o poema de hoje gostaria de retratar o que foi a felicidade de um amante há dois anos. Um pôr-do-sol, um verão que nunca saíram da minha mente - e tenho certeza que nunca sairão.
Mas esse ano, no dia 14 de janeiro não tem poesia, não tem amor, pôr-do-sol ou namoro. Tem o verão, a tristeza e a saudade de coisas que nem passamos.

O poema de hoje é meu, mais do que qualquer outro, é meu aprisionamento em um paraíso perfeito.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Sem título I

Há dias me pego tentando escrever.

Senti que estava esquecendo de como faz isso; ligar as palavras, costurar esse eterno manto que recobre as minhas sentimentalidades.
Achei que havia me esquecido dessas sentimentalidades até que me peguei rindo, identificando-me com textos, conversas e trocas musicais completamente despretensiosas. Desde então, as palavras fluem da minha mente, mesmo desregradas, cabe a mim ordená-las logicamente.
E então, tenho cada vez mais certeza que as melhores histórias são feitas à noite.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Deliquar

Você vem chegando, despreocupado como um daqueles meninos à flor da idade, se instalando em meu infinito particular que apelidei carinhosamente como "Coração".
Não me importa o que você pensa; há vezes que deixo pensar e sigo sentindo aquele gostinho de "quero estar mais" ao seu lado.
Seu cheiro de cafuné sem pressa e a eloquência do seu discurso fazem-me deliquar, semelhante a essas tardes mornas de verão, na casa da sua tia-avó com aquela colônia lhe atiçando as narinas.

Vem cá, mais perto. Não vá embora, não agora, depois de tanto tempo que levei pra te encontrar no meio de tanta gente chata.