Quem sou eu

Me abre, me lê, confessa. Sou eu quem sei todos os seus segredos traduzidos em meus conflitos. Vem

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Tango

Em algum lugar não muito adequado para uma descrição, eu me perdia em vinhos, cigarros, homens, mulheres e trocas de olhar. Sentado quase em posição estratégica, em uma cadeira de madeira, meu cigarro era acendido por um dos garçons que me olhava havia um tempo. Ele me veio com uma dúzia de meias palavras que pareciam ensaiadas e tiradas de livros baratos. Nem precisei fazer esforço para ignora-lo, o próprio percebeu que o melhor a fazer era voltar a servir os outros. Meu vinho esquentava, assim como eu dentro daquele terno preto. O que era fumaça de cigarro em um ambiente hostil acabou por se tornar uma inebriante iluminação de tom vermelho. Aquele tango que tocava no fundo do meu ser começava a ser traduzido nos violoncelos, pianos e violinos da banda. Achei que ele não teria audácia suficiente, mas lá estava ele: lindo como sempre, aquele sorriso cafajeste em seu rosto e trazia consigo mais um idiota iludido. Com o nível de álcool em meu sangue, havia apenas um sentimento preenchendo a minha mente quando eu olhava para ele, e não era raiva.
Aproximei-me dele, o tango continuava a tocar - adoro essa parte que são apenas os violinos - eu me aproximava como um tigre, sorrateiro, camuflado e com apenas um desejo em mente. O encontro, um primeiro choque, ele parecia não estar acreditando que eu estava indo falar com ele, com ambos, na verdade. Longas horas de conversa, e o tango vinha chegando ao ápice, assim como os três corpos na cama de um motel barato. O que aconteceu, não sei ao certo, apaguei completamente. Nunca me dei muito bem com vinho e cigarro. Só me lembro de estar acordando e encontrar os dois mortos na banheira do motel, e minhas mãos completamente sujas de sangue.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Palco

Tudo cru e nu. Não há cor, não há alma e nem corpo.
Um vazio de doer no peito, há quem interessar possa. Mas, com algumas palavras, que serão aparentemente sem nexo no início, mas ganharão a vida necessária quando for a vida que lhes colocar no mundo.
Aos poucos, tudo se constrói, as palavras passam a fazer mais sentido e aqueles barulhos ritmados - "5,6,7,8" - vão construindo aos poucos um reino que se habita de emoções à flor da pele.
A pele, coberta ou descoberta, se move, dança, grita, encanta e transforma. Tudo nu, tudo cru, por fora ou por dentro e tudo mais.