Quem sou eu

Me abre, me lê, confessa. Sou eu quem sei todos os seus segredos traduzidos em meus conflitos. Vem

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sóbrio

Cada barulho ecoava mais do que insistentemente em meu crânio. Eu estava sozinho e aquela multidão à minha volta parecia uma roda-viva de tantas cores, cheiros e sabores diferentes. Eu ouvia gargalhadas, coisas sem sentido e até algumas que se preocupavam comigo e eu não entendia o porque dessa preocupação, pela primeira vez em muito tempo eu me sentia sóbrio.
Levantei, mas eu não sentia o chão, tombei pro lado no gelo. Estava sem luva e acho que queimei a mão naquele chão gelado, não me importei com isso, era uma coisa tão longe, uma dor que mal chegava a ser processada pelas minhas lentas sinápses. Me ajeitei, com a ajuda de alguns que se julgavam ser melhores que outros, bons o suficiente pra me ajudar. Eu não queria a pena nem a compaixão de ninguém, já disse que estava sóbrio e chegaria em casa sem nenhum problema.
Eu caminhava errante pela rua, as pessoas se esquivavam como se eu fosse algum tipo de doença infecto-contagiosa extremamente perigosa, eu agradeci por não estar mais tão frio quanto eu achei que estava, olhei pra baixo, alguma coisa me chamou a atenção mas eu continuei andando, errante. Foi quando eu me bati com alguém, derrubei algumas coisas no chão e meio tonto comecei a pegar. Eu olhei pra frente e mesmo com a visão turva eu a vi, ruiva. Ela parecia preocupada comigo, mas então eu devolvi suas coisas e tentei seguir em frente, enquanto ela balbuciava algo que pra mim não fazia sentido. Ainda enfeitiçado pela sua beleza, eu não prestei atenção em mais nada à minha volta, eu fitava seus olhos castanhos e ela parecia desenhar um sorriso em seu rosto. Eu me virei, tentei me concentrar no caminho de casa, mas eu já não me lembrava mais nada, estava sóbrio demais. Senti então que alguém segurou meu braço, era ela, cheia daqueles livros que eu tinha derrubado:
- Precisa de ajuda?
Embora tudo o que eu tivesse ouvido até agora não passassem de borrões sonoros, eu pudi ouvir sua voz claramente, aquilo ficou gravado em minha mente, que foi perdendo a visão, o tato, o olfato e todos os outros sentidos aos poucos, antes de sentir o corpo tombar no chão. Sorte que aquela ruiva misteriosa era estudante de saúde e conhecia algumas técnicas vitais. Socorrido e com os sentidos se recobrando aos poucos, eu estava aconchegado em seu colo, perto de uma lareira e longe daquele frio. Eu sabia mais do que nunca que estava sóbrio pela primeira vez, mas enebriado de amor.

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