Quem sou eu

Me abre, me lê, confessa. Sou eu quem sei todos os seus segredos traduzidos em meus conflitos. Vem

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Colegial

Eu me demorava à mesa do café, porque aliás, eu podia fazer isso... aquele tédio engraçado não me consumia como deveria, eu queria me queixar dele mas na verdade ele era até bom.
Enquanto eu via alguns queixando-se do tédio, o ser inanimado, que parecia mais animado do que nunca, que me incomodava era o calor. Eu brincava com o pão-com-manteiga que fizera com tanto carinho para então comê-lo, era quase um ritual de preparação e em pouco tempo, todo aquele amido estaria sendo digerido pela amilase presente em minha boca e pelo resto do meu sistema digestivo, que aliás era um dos poucos assuntos da biologia que não me chamavam atenção. Eu continuava a brincar com o pão e a manteiga parecia derreter-se mais com o passar do tempo, eu não a culpava, suas fracas interações não eram capazes de suportar aquele calor de rachar o crânio, eu estava me sentindo uma planta dentro de uma estufa.
Alguma coisa chamou minha atenção na varanda de casa, que aliás, era uma boa casa. Grande e com aquele aspecto nostálgico de uma elegância perdida com o tempo e pelo mau-uso. Olhei então pra varanda e pude ver o sol enganando meus olhos do lado de fora, eu via a refração, difração e, se não me engano, reflexação da luz devido a diferença de temperatura e pressão ocasionada por aquele insuportável astro-rei.
Continuei então demorando com o pão até que decidi, sem ritual nenhum, comê-lo. Não me demorei mais à mesa, tomei o meu suco e levantei para o nada, que me forçava ter o tempo para fazer o que eu tinha dom (o meu único aliás) que era cozinhar. Me encaminhava para a cozinha, com aquele passo de domingo pelo manhã e então me lembrei que deveria fumar... Fumar era um daqueles dons forçados, nunca gostei mas me acostumei, porque sempre me pareceu mais fácil acostumar-se com as coisas do que lutar contra elas.
Me encaminhei para a varanda, acendendo o cigarro, e encontrei o meu vizinho na varanda dele. Era meu amigo de longa data, nos conhecemos no... colegial, como chamavam na minha época.
Sentei-me na cadeira de balanço que eu deixava na varanda, estratégicamente posicionada frente-a-frente com a varanda do meu amigo. Ambos nos sentamos e começamos a conversar...
A conversa rendeu, como sempre, até que... até que...
Não sei, ele ficou em silêncio de repente...
Até que tudo pareceu muito silencioso para mim...
Nem mesmo o vento ousava se mover...
Aonde eu estava, foi o que me perguntei quando olhei ao redor e não conseguia reconhecer nada. A única coisa que reconheci foi o rosto jovem do meu amigo me chamando pra ir com ele, e quando olhei pra mim mesmo, todas aquelas rugas haviam sumido e o cabelo estava no lugar que deveria estar. Estranho, mas fomos juntos e olha... encontramos tantos dos nossos amigos daquele tal "colegial"

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