Quem sou eu

Me abre, me lê, confessa. Sou eu quem sei todos os seus segredos traduzidos em meus conflitos. Vem

domingo, 19 de dezembro de 2010

Laranja

Ele não fazia idéia de onde estava, desconhecia aquele lugar, aquela cama e aquele cheiro... parecia laranja, com aquele cheiro cítrico e doce, que inflamava os ânimos e afagava o desejo.
O quarto era pequeno e simples, uma cama, uma estante com alguns livros, uma janela e uma porta branca, que estava entreaberta e parecia desembocar numa cozinha.
Ele continuava inquieto, sentado na cama e esperando alguém para tira-lo daquele desespero que era quase acalentador. Alguém vinha chegando pela porta, ele conhecia aquela silhueta e o cheiro, que misturava laranja e o cheiro que só ele tinha, ah o cheiro.
Ambos deitaram na cama e se mantiveram, inquietamente, estáticos, com medo de qualquer ação brusca para uma reação ainda pior. Cada um podia farejar o desejo transpirante pelo outro, mas fingindo que isso nunca existiu, viraram-se de costas. Por um momento tudo parecia ter aquietado, nem mesmo as moléculas de oxigênio pareciam circular pelo ar.
Mas, como se cada passo tivesse sido arquitetado, a mais perfeita reação ocorreu entre os dois corpos semelhantes, opostos e dispostos, que se atrairam mutuamente para o que a noite os oferecia. Uma tentação, uma mordida "ai!" uma carícia afagava. Era quase um processo de unificação de corpos, se não fosse pela diferença hierárquica e espacial do momento. E tudo se repetia, apenas aumentando a dose e a intensidade, até que finalmente... ambos tombaram cansados para os lados.

Hematomas, arranhões, um lençol lascado e aquele cheiro de laranja foram os produtos daquela reação irreversível.

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