Quem sou eu

Me abre, me lê, confessa. Sou eu quem sei todos os seus segredos traduzidos em meus conflitos. Vem

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Bolso da calça

Pra qualquer um que visse de longe, seria apenas um pedaço velho e amassado de papel. Eles não teriam a noção de quantas lágrimas já haviam sido derramadas por aquele 'trapo' feito de celulose, que agora não passava de um pedaço de nada, que dois amigos insistiam em guardar entre si.
Aquele pedaço de papel, estático no asfalto escaldante não parecia sentir mais as agressões físicas e possivelmente emocionais que aquele quase sertão poderia despertar. Mas como uma bailarina, veio dançando com a brisa leve, que o carregou por aquela ladeira, rodeada por gigantes espectadores, silenciosos, que arranhavam o céu azul. O pedaço de papel descia, com a graciosidade de um baile perfumado, aquilo que lembrava uma montanha íngreme. Mas ele, o papel, já não sentia mais nada, não ouvia mais nada e nem falava. Porque o que estava escrito nele fazia com que as pessoas fugissem, como se fosse uma mentira de tamanho sem igual. Aquilo que estava escrito nele, jazia das lembranças póstumas de dois amigos, que já não se viam mais.
O pedaço de papel rolou e aportou em meus pés, virado para cima, aonde era possível ver o que tanto temiam os mortais, como se aquilo os fosse marcar a ferro e fogo. Eu pude então, ler, em letras garrafais, escritas com tanta força que pareciam penetrar o papel quase de um modo obsceno.
Eu li as três palavras que levariam qualquer mente humana fraca à loucura, mas que seria capaz de acalentar qualquer que soubesse dosá-las, quase omeopaticamente.
Eu li, e tomei para mim o significado daquelas três palavras, juntas em uma frase só, que eu aprendi a partir desse dia.

Eu dobrei o papel e o coloquei no bolso traseiro da calça, senti quase um frênesi imediato e então, para aquele que se postou diante de mim, e me deu um anel, eu proferi as três palavras mágicas: Eu te amo.

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