Quem sou eu

Me abre, me lê, confessa. Sou eu quem sei todos os seus segredos traduzidos em meus conflitos. Vem

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Música de apartamento


À meia luz sozinho em meu quarto, algo me doía.

Eu insistia, ao que me parece, em me revirar na cama resistindo a dormir. Aquele calor e a dor me desatinavam o juízo de maneira que dormir não era a minha melhor opção.
Levantei, apesar de estar vestindo quase nada o calor tomava conta, de maneira quase febril. Fui à cozinha buscar um pouco d'água gelada; para beber ou mesmo para jogar em mim, pensando se resolveria algo.
A caminho da cozinha percebi um som de violão vindo ao longe, ele vibrava em todas as notas - ainda um pouco tímidas, confesso - mas insistentes. Peguei a água e as notas continuavam insistindo em mim, resolvi ir à varanda descobrir a origem daquele violão. Como imaginei: outro vizinho cuja insônia resolveu atacar na mesma noite que a minha.

A janela dele estava entreaberta, parei-me encostado na varanda escutando o que ele tinha a me dizer com aquelas notas que já não eram tão mais tímidas. No limiar do possível, ele me dizia algo que eu queria escutar, algo que se sobrepunha ao tom mais agudo daquela dor que eu já nem lembrava. Em pouco tempo as notas deixaram de ser aleatórias para seguir alguma ordem e sincronia musicalmente agradável.

Vizinhos de janela e era a primeira vez que nos víamos - sim, ele espiou para fora da janela e me viu - confesso ter arrependido-me levemente da minha falta de curiosidade quanto às pessoas que me rodeiam. Ele sorriu de imediato ao cruzarmos os olhos, largou o violão de lado e se pôs à janela:
- Não consegue dormir?
Gritou, quase fazendo graça.
- Não.
Respondi um pouco sem graça - quem era ele pra me deixar assim?
- Vem pra cá. Não dormir acompanhado é melhor até do que dormir sozinho.

Acho que nem esperei ele terminar de falar.
Sei apenas que na continuação da minha noite a dor e o calor sumiram.

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